Ministério Público do Trabalho pede que ex-presidente da Caixa pague R$ 30,5 milhões por assédio a funcionárias

O Ministério Público do Trabalho (MPT) pediu nesta quinta-feira (29) que a Justiça condene o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Pedro Guimarães ao pagamento de R$ 30,5 milhões pelos danos causados às mulheres que o acusam de assédio moral e sexual. O MPT pede que o dinheiro da condenação seja revertido a um fundo destinado à proteção dos direitos dos trabalhadores. As denúncias se tornaram de conhecimento público em junho, quando algumas ex-funcionárias, que já tinham acionado a Justiça, relataram as denúncias também para a imprensa (veja relatos abaixo). Os procuradores também solicitaram a condenação dos integrantes do Conselho de Administração da Caixa à época a pagar R$ 3 milhões pela “omissão de cada um em fiscalizar os atos” de Pedro Guimarães. Na ação civil pública ajuizada nesta quinta, os procuradores apontaram que, durante a gestão de Pedro Guimarães, houve “uma onda de afastamento por doenças mentais”. Segundo o documento, a média anual de afastamentos por enfermidades dessa natureza passou a ser de 354 funcionários por ano. Antes de Guimarães, a média de afastamentos médicos mentais era de 277 por ano. Em nota, a defesa de Guimarães afirmou que o MPT agiu de fomra “açodada” e que a ação civil pública tem caráter eleitoreiro. “O Ministério Público, de maneira açodada e às vésperas da eleição, ajuíza uma ação manifestamente improcedente e eleitoreira.Pedro Guimarães, que juntamente com a sua equipe ganhou todos os prêmios durante a sua gestão na Caixa Econômica Federal, nega categoricamente a prática de qualquer ato irregular”, escreveram os advogados José Luis Oliveira Lima e Luís Augusto Canedo. Procurada pela reportagem, a Caixa ainda não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem. Testemunhas relatam as agressões Os procuradores ouviram testemunhas que contaram que Guimarães fazia brincadeiras constrangedoras com os funcionários, como: “jogar pessoas no rio, colocar pimenta na comida das pessoas, determinar que a pessoa faça exercícios militares e filmar a pessoa em situação desconfortável, divulgando em suas redes sociais”. “Praticamente todas as testemunhas relataram que o ex-presidente gritava e se utiliza frequentemente de palavrões, a caracterizar assédio moral por stress, medo, injúria”, argumentaram os procuradores. Na ação, o MPT afirmou que Pedro Guimarães era uma pessoa violenta. Uma das testemunhas ouvidas no processo afirmou que durante uma reunião a trabalho, o ex-presidente da caixa “virou a mão e bateu na xícara de café em sua direção, que o café agarrou no seu rosto, que o depoente ficou paralisado com as gotas de café caindo no seu olho” e que “depois disso o presidente disse gritando que a reunião estava terminada, saiu e bateu a porta bem forte”. No documento, os procuradores juntaram relatos de que Guimarães, em momentos de raiva, quebrava celulares fornecidos pela Caixa. No período em que esteve na presidência da Caixa, Guimarães recebeu cinco aparelhos corporativos, segundo os procuradores. Omissão da Caixa O MPT afirmou que a primeira denúncia de assédio sexual contra o ex-presidente da Caixa aconteceu em julho de de 2019, quando Guimarães estava há apenas seis meses no exercício do cargo. Mas, segundo os procuradores, a empresa não adotou qualquer providência para investigar a denúncia. ” Muito pelo contrário, pois usou de subterfúgios para não arquivar a denúncia — como o fez — e ainda tentou esconder o fato do Ministério Público do Trabalho”, escreveram os procuradores. Devido à suposta omissão, o MPT pediu a condenação da Caixa Econômica Federal em R$ 305 milhões pela omissão na investigação. Os procuradores também solicitaram que a Justiça determine que a Caixa abstenha-se de praticar ou permitir a prática de quaisquer atos que importem a retaliação a pessoas que utilizem o canal de denúncias interno ou que tenha participado como testemunha em investigação do Ministério Público ou dos demais órgãos de fiscalização.

Empregados cobram resultado de investigações de assédio na Caixa

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) cobram resposta ao ofício enviado ao banco no dia 16 de setembro solicitando informações sobre a apuração das denúncias de assédio sexual contra Pedro Guimarães e outros ex-dirigentes da Caixa. “Quando assumiu a presidência da Caixa, Daniella Marques prometeu apuração rígida e ágil. Mas, já se passaram quase 90 dias e, mesmo com as inúmeras denúncias, até o momento não houve desfecho das investigações”, disse o dirigente da Contraf-CUT, Rafael de Castro. “Será que vão querer imitar nosso digníssimo presidente da República e impor sigilo de 100 anos no processo? Ou estão esperando passar as eleições?”, questionou o dirigente, ao lembrar que Pedro Guimarães era braço direito de Bolsonaro. Para a diretora executiva da Contraf-CUT, Eliana Brasil, a demora na resposta pode dar a impressão de que as denúncias ficarão impunes. “A demora na resposta faz com que a gente sinta cheiro de pizza. E tenho certeza que era justamente para se evitar esta impressão que, quando assumiu a presidência, a Daniella disse que haveria uma resposta rápida sobre o caso”, disse. “Agora, resta saber se ela realmente vai cumprir o que falou diante das câmeras da Globo para tentar apaziguar a situação naquele momento. A depender de sua atitude, vamos ver se ela realmente tem a intenção de defender as mulheres e lutar contra o assédio na Caixa”, completou. Assédio sexual é crime! O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, lembra que, no Brasil, o assédio sexual é crime, definido no artigo 216-A do Código Penal, que prevê a pena de detenção de um a dois anos. “Se apurada e comprovada a culpa, não se pode ‘passar a mão na cabeça’ somente porque trata-se de um ex-presidente do banco. Se é culpado, deve responder na Justiça comum pelo que fez, uma vez que o assédio sexual é um crime com pena prevista no Código Penal”, disse o presidente da Fenae. “Além disso, a legislação trabalhista também prevê indenização para reparação do dano causado às vítimas”, completou. Entenda o caso Pedro Guimarães foi acusado de assédio sexual por várias empregadas da Caixa. A informação foi divulgada no dia 28 de junho de 2022 pelo site Metrópoles. Em poucos minutos a notícia ganhou repercussão nacional, em especial na Câmara dos Deputados, onde vários parlamentares pediram em plenário a demissão do executivo. Segundo a reportagem, no fim de 2021, um grupo de empregadas, ligadas ao gabinete da presidência da Caixa, rompeu o silêncio com uma denúncia, ao Ministério Público Federal (MPF), de assédios sexuais que vinham sofrendo. Desde então, o MPF toca as investigações em sigilo. Cinco das vítimas falaram à reportagem citada sob anonimato. Nos testemunhos, elas contam que foram abusadas com toques em partes íntimas sem consentimento, falas e abordagens inconvenientes e convites desrespeitosos, por parte do então presidente da entidade. A maior parte dos relatos está ligada a atividades do programa Caixa Mais Brasil, realizadas em todo o país. Pelo programa, desde 2019, já ocorreram mais de 140 viagens, em que estavam Pedro Guimarães e equipe. Nesses eventos profissionais, todos ficavam no mesmo hotel, onde ocorriam os assédios. No dia 29 de junho, Pedro Guimarães entregou ao presidente da República, Jair Bolsonaro, seu pedido de demissão da presidência da Caixa.

Bancários cobram proposta de combate ao assédio moral

O Comando Nacional dos Bancários debateu, nesta segunda-feira (15), com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), sobre o estabelecimento de metas inatingíveis e a cobrança abusiva pelo seu cumprimento. “Até o levantamento apresentado pelos bancos constata maior adoecimento mental e físico dos bancários na comparação com outras categorias. Precisamos acabar com os geradores do adoecimento que, sabemos, está ligado ao assédio moral e à cobrança abusiva de cumprimento de metas inatingíveis”, disse a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, que é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários. “Mas, os bancos insistem que o adoecimento não tem origem na cobrança de metas”, diz. A consultoria contratada pela Fenaban apresentou dados com base em números dos próprios bancos. “É claro que os números dos Recursos Humanos dos bancos não vão apontar as metas como causa do adoecimento. Nós ouvimos a categoria, que disse o contrário. As metas são sim a principal causa do adoecimento”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (Seeb/SP), Ivone Silva, ao lembrar da Consulta Nacional 2022, respondida por mais de 35 mil bancários, dos quais 77% acredita que a cobrança excessiva pelo cumprimento de metas causam cansaço, fadiga e preocupação constante; 54% dizem que causa desmotivação, vontade de não ir trabalhar, medo de estourar; 51% diz causar dor, formigamento nos ombros, braços ou mãos; 44% que causa crise de ansiedade e pânico (veja outros resultados no gráfico). “As metas são estabelecidas de cima para baixo e existe muita pressão para que elas sejam atingidas”, observou o secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Mauro Salles. “As bancárias e os bancários não estão satisfeitos com a forma como as metas são estabelecidas e cobradas. E muito menos com o aumento dos objetivos a serem atingidos após o seu cumprimento. É aquela história de querer mudar a regra do jogo com a partida em andamento”, completou. O tema volta a ser discutido na próxima rodada de negociações, que será realizada na quinta-feira (18). Teletrabalho Além do debate sobre metas, também houve acertos sobre a redação de cláusulas de teletrabalho, discutidos na reunião passada. A Fenaban analisará as observações feitas pelo Comando Nacional dos Bancários e enviará uma nova proposta sobre o tema.

Comando dos Bancários cobra fim do assédio moral em negociação

A última rodada de negociação do Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), realizada nesta segunda-feira (01/08), tratou dos temas saúde e condições de trabalho. Todos sabem que a maior causa do adoecimento na categoria bancária é a pressão, com assédio moral, por metas abusivas. Este foi um dos principais pontos debatidos. Segundo levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nos últimos cinco anos, o número de afastamentos nos bancos aumentou 26,2%, enquanto no geral a variação foi de 15,4%. A variação entre os bancários foi 1,7 vezes maior do que a média dos outros setores. Para a categoria, o tema de Saúde tem uma importância muito grande. Com as mudanças do setor financeiro houve alterações também no tipo de doença entre os bancários. Antes as doenças que mais acometiam a categoria eram as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) e agora é o adoecimento mental. “Os bancos começaram a reunião dizendo que as metas não geram adoecimento, que o adoecimento mental não é um problema dos bancários. Mas nós provamos que o adoecimento mental dos bancários é maior que em outras categorias”, observou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira. “Para fechar a campanha é preciso avançar no combate ao assédio moral”, completou Juvandia, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários. Após pressão do Comando, a Fenaban aceitou analisar as propostas da minuta de reivindicações da categoria. A negociação O secretário da Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Mauro Salles, ressaltou que o adoecimento físico e psíquico na categoria aumentou. “Além dos riscos ergonômico e psicossocial, surgiu mais um, o biológico, relacionado à Covid-19, para tensionar e adoecer ainda mais os bancários”, observou. “Os bancos precisam tratar esta questão com foco na saúde e não econômica, na busca de mais lucro”, completou. O levantamento do Dieese, a partir de dados do INSS, aponta que as doenças mentais e comportamentais representavam 23% dos afastamentos previdenciários da categoria em 2012. Em 2021, a porcentagem passou para 36%. Entre os afastamentos acidentários (B91), o salto foi de 30% em 2012 para 55% em 2021. As doenças nervosas saíram de 9% para 16%. “Existem diversos números e pesquisas que apontam a cobrança de metas como a causa do adoecimento mental da categoria. Cobramos muito a questão da saúde e os bancos não deram retorno, mas aceitaram analisar nossas propostas”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, que também é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários. Ivone lembrou que, recentemente, o banco Santander foi condenado a pagar R$ 275 milhões de indenização por cobrança de metas abusivas, em uma ação coletiva movida pelo Ministério Público do Trabalho com base em estudos embasados em diversos dados, pesquisas e entrevistas com trabalhadores da categoria. Na decisão a Justiça proibiu o banco de continuar a exercer tais práticas. Também ganhou grande repercussão as denúncias de assédio moral e sexual que levaram à queda do ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. “São exemplos típicos do assédio que acontece no dia a dia em diversas agências e departamentos bancários em todo o país e que têm levado os bancários ao adoecimento”, disse Juvandia. “As discussões precisam avançar, pois não podemos permitir que os bancários continuem adoecendo”, completou lembrando que, na última pesquisa de teletrabalho, 37,5% dos bancários disseram que para melhorar a saúde da categoria os bancos precisam reduzir as metas e a pressão pelo seu umprimento. Na reunião desta segunda-feira, os bancos insistiram que seria preciso realizar estudos para se comprovar se o adoecimento mental é consequência da pressão por metas e do assédio moral sobre os bancários. Mas, após o Comando apresentar diversos casos concretos, coletados a partir do atendimento a bancários no dia a dia, a Fenaban aceitou analisar as propostas da categoria. Novas cláusulas A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, reforçou a necessidade de inclusão de novas cláusulas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) em decorrência da atual conjuntura sanitária do país e do mundo ao lembrar da importância de se estabelecer protocolos sanitários para se evitar o contágio e propagação não apenas da Covid-19, mas também de outras doenças. “Algumas epidemias, como a varíola do macaco, já estão atingindo o país e outras estão surgindo. Assim como fizemos com a Covid-19, precisamos pensar em protocolos para evitar o contágio na categoria e dela para os clientes e a sociedade como um todo”, disse. Ivone também falou da importância de se pensar em equipamentos para a renovação do ar no ambiente de trabalho. Outra cláusula nova é a que trata das medidas pós-covid-19, com a inclusão de procedimentos de combate e prevenção de doenças e suas sequelas. “E os bancos devem pensar formas para que as pessoas que estão com sequelas, como cansaço, por exemplo, sejam reabilitadas e, se for o caso, sejam realocadas”, disse a presidenta do Seeb/SP. Próxima reunião A próxima reunião de negociação da Campanha Nacional dos Bancários 2022 com a Fenaban acontece na quarta-feira (3). Em pauta, as cláusulas econômicas.

Sindicato participa de Dia Nacional de Luta contra demissões e assédio moral no Itaú

O Dia Nacional de Luta dos bancários do Itaú contra demissões, fechamento de postos de trabalho e assédio moral e sexual também teve atividades realizadas nesta quinta-feira (14/7), pelo Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense, nas cidades de Volta Redonda e Barra Mansa. Diretores da entidade foram até algumas unidades do banco com faixas e panfletos para denunciar também as manobras do Itaú que vão gerar diversas demissões de funcionários. No dia 4 de julho o banco anunciou a automação da Diretoria de Operações Centralizadas e da Diretoria de Negócios ItauCred Veículos, que tem gerado muitas demissões. O banco deu o prazo de apenas 15 dias para a área de consignado e 60 dias para área de veículos realizarem a realocação dos funcionários, período em que o bancário terá que se candidatar a uma vaga e passar por processo seletivo interno, para só depois ter o retorno se foi aprovado ou não. Isso se houver vagas disponíveis. A medida é claramente desumana e vai gerar mais dispensas que já vinham sendo executadas pelo banco. Além disso, foram encerradas 211 unidades do banco, entre janeiro e maio de 2022. O Itaú é o banco que mais lucrou no primeiro trimestre de 2022. Foram R$ 7,3 bilhões nos três primeiros meses do ano, uma alta de 15,1% em relação ao mesmo período de 2021. Mesmo com estes lucros astronômicos e consecutivos, com ou sem crise econômica ou sanitária, o banco continua demitindo e fechando postos de trabalho.

Exposição de crimes de abusos contra mulheres é necessária

O estarrecedor caso do médico anestesista preso em flagrante por violar uma paciente durante cesariana recoloca o debate sobre o combate à violência estrutural de gênero na sociedade. A avaliação é da secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes. “Quando lemos as matérias sobre o caso, damos conta de que o médico criminoso atuou por pelo menos 10 anos em hospitais públicos e privados. E foi somente após a articulação das enfermeiras que ele foi descoberto e preso”, observou Lopes, referindo-se ao trabalho da equipe do hospital que escondeu uma câmera de celular que flagrou o crime, obtendo a prova que levou Giovanni Quintella à prisão. “Essa história é muito semelhante à de Pedro Guimarães, se analisarmos os fatores que o levaram à queda”, ponderou a secretária, ao lembrar que denúncias contra assédios praticados pelo agora ex-presidente da Caixa foram acobertadas desde 2019. Mas, somente agora, em 2022, é que Guimarães foi exposto. “Foi necessário que as vítimas se unissem para levar às denúncias ao Ministério Público Federal”, lembrou Lopes, que também coordena o projeto Basta! Não irão nos calar. Acobertar fortalece crimes Em recente entrevista para Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual, a consultora jurídica aposentada da Caixa, Isabel Gomes avaliou que o acobertamento das denúncias contra Guimarães foi o que permitiu que “o fato tomasse essas proporções aterradoras que atingiram dezenas, e talvez centenas, de colegas”. Conforme disse Isabel, o silêncio foi responsável por multiplicar o crime. “Até porque o comportamento de um dirigente máximo de uma instituição acaba inspirando e influenciando as esferas inferiores. Então hoje o que se diz é que há assédio inclusive nas instâncias inferiores, chegando nas agências”, completou. Isabel Gomes foi quem criou, em 2002, a ouvidoria da Caixa e viu a mesma estrutura ser desmontada, a partir de 2016. Ela disse que, nos bastidores, todo mundo sabia que as denúncias não eram apuradas. “Pedro Guimarães tinha até intermediários para que as denúncias não fossem apuradas. Assim chegamos a esse fato que é aterrador, chocante e suja o nome de uma empresa que é centenária”, concluiu. O papel da mobilização Na semana em que as denúncias contra Pedro Guimarães foram expostas, a Contraf-CUT e as entidades sindicais organizaram um Dia Nacional de Luta contra o assédio moral e sexual. E, durante a terceira rodada de negociação da Campanha Nacional 2022, que ocorreu na primeira semana de julho, o Comando Nacional dos Bancários entregou à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) propostas para o fim de abusos e equidade em todos os segmentos, com destaque ao combate ao assédio sexual e moral. “Só vamos alcançar uma sociedade justa com esse processo terapêutico de exposição e combate aos casos de abuso”, explicou Fernanda Lopes. “Todas essas ações são importantes não apenas para conscientizar a sociedade que as mulheres, além de sofrerem discriminação salarial, nas promoções e na ocupação de altos cargos na empresa, ainda precisam enfrentar o assédio sexual, mas também para não perdermos de vista que não vamos avançar no combate à violência de gênero sem a ação organizada, sem a ação conjunta”, concluiu. Projeto Basta! Para Fernanda, o Projeto Basta! Não irão nos calar faz parte desse movimento de combate à violência contra a mulher na categoria bancária. O programa oferece assessoria técnica às federações e aos sindicatos, para implantação de canais de atendimento jurídico especializado para mulheres em situação de violência doméstica e familiar. A ideia foi inspirada no exemplo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, que desde dezembro de 2019 oferece este serviço já atendeu a mais de 200 mulheres. “Esse programa de acolhimento e assistência às mulheres vítimas de violência se mostrou importante ferramenta durante a pandemia, pois as mulheres estavam em casa, e o canal se tornou um facilitador para que elas efetivassem a denúncia”, afirmou.

Dia Nacional de Luta contra o assédio moral e sexual

Os bancários de todo o Brasil realizam um Dia Nacional de Luta contra o assédio moral e sexual, na próxima terça-feira (5). Idealizado pelo Comando Nacional dos Bancários, o objetivo do ato é intensificar as denúncias e a exigência das devidas apurações junto à base da categoria e à sociedade. Para as mídias sociais a orientação é usar a #BastaDeAssedio. Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e uma das coordenadoras do Comando Nacional, lembra que nos últimos dias acompanhamos as notícias e os relatos sobre as práticas criminosas de assédio moral e sexual na categoria bancária, principalmente contra as colegas bancárias da Caixa. “As entidades sindicais já repercutiram os fatos cobrando apuração e, com isso, desencadeou expressivo envolvimento em âmbito nacional. Não vamos parar enquanto todos os casos forem investigados e os culpados punidos”, garantiu. Juvandia informou que o foco será o respeito às mulheres, a equidade de condições no trabalho, a exigência de respeito e acolhimento às colegas denunciantes dos casos ocorridos na Caixa. “Os atos presenciais podem ser realizados nas unidades dos bancos, com prioridades às da Caixa, para diálogo com a categoria e a população local. Em cada região propomos o convite aos representantes de movimentos sociais locais, feministas e de direitos humanos, entre outros, para potencialização das ações”, explicou.

Denúncias de assédio nas Centrais de Relacionamentos são apontadas em reunião com o BB

Durante reunião nesta quinta-feira (14/04), a Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB) apresentou à direção do Banco do Brasil denúncias de assédio moral e cobrança excessiva de metas, que dificilmente serão atingidas, nas Centrais de Relacionamento do Banco do Brasil (CRBBs) de São Paulo, Curitiba, São José dos Pinhais (PR) e em outras localidades do país. A direção do banco se comprometeu a apurar as denúncias e trazer respostas na próxima reunião. Desde a alteração do nome de Central de Atendimento para Central de Relacionamento, aprofundou-se a mudança de foco na CRBB para a oferta e venda de produtos. Porém, é papel da CRBB atender clientes não encarteirados do banco, normalmente com menor poder aquisitivo, muitas vezes incapazes de adquirir produtos e serviços que devem ser ofertados obrigatoriamente pelos atendentes. Ou seja, um público que não condiz com o foco imposto pela Diretoria de Varejo (DIVAR) nas centrais. Ana Smolka e Alessandro Greco Garcia, o Vovô, diretores do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região e funcionários do BB, lembraram que num passado recente já houve necessidade de uma prevenção de conflito na central paranaense e talvez seja o momento de outra intervenção da diretoria do banco. Já o representante da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de Santa Catarina (Fetrafi/SC) na CEBB, Luiz Toniolo, reforçou que os funcionários das CRBBs estão submetidos a uma rotina de trabalho exigente e desgastante e sofrem cobrança excessiva de metas e que mudanças precisam ser feitas, pois nunca presenciou um nível de descontentamento tão grande. Sandra Trajano, secretária geral do Sindicato dos Bancários em Pernambuco e funcionária do BB, salientou que as reclamações de que o trabalho é desumano, com metas inalcançáveis, também acontecem em sua base e precisam ser solucionadas o quanto antes. Getúlio Maciel, representante da Federação dos Bancários no Estado de São Paulo (Fetec-SP) na CEBB, cobrou do banco melhores condições de trabalho, recomposição do quadro e valorização do papel do BB enquanto banco público, além da implementação do acordo de teletrabalho na CRBB. O coordenador da CEBB, João Fukunaga, lamentou o fato de a maioria das denúncias já terem sido “pacificadas” anteriormente. “Parece que estamos regredindo nas relações trabalhistas dentro do banco. Voltamos a debater temas que foram resolvidos há mais de dez anos”.

Como podemos ajudar?