O Julho das Pretas está realizando, neste ano, pelo menos 446 atividades, organizadas por 230 entidades em 20 estados e o Distrito Federal. O tema é “Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver”.
O objetivo do movimento é promover o debate sobre a necessária reparação para a população negra, vítima de injustiças desde a origem de sua trajetória histórica, com comunidades inteiras sequestradas em sua terra de origem, a África, para serem escravizadas nas Américas.
Outro ponto é a difusão e organização da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que será em 2025. A 1ª Marcha ocorreu em 2015, em Brasília.
Desigualdade
O secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, afirma que a data remete à luta e resistência internacional da mulher negra contra o racismo e o sexismo, à discriminação de gênero e raça e à falta de oportunidades no mercado de trabalho.
“As estatísticas mostram as desigualdades contra as mulheres negras, como as mais de 40% das mulheres negras que hoje estão subutilizadas no mercado de trabalho”, pontua Almir.
O secretário também aponta problemas arraigados na sociedade brasileira, que afetam a mulher negra devido ao racismo estrutural.
“É o caso da política de encarceramento em massa, que levou às prisões brasileiras a quarta maior população carcerária feminina do mundo, e 62% delas são negras; e do feminicídio, que atinge muito mais as mulheres negras no país”, ressalta Almir.
Segundo Almir, a sociedade brasileira precisa estar atenta à luta contra a discriminação à mulher. Para ele, “é hora de a sociedade refletir e criar mecanismos para pôr fim nessa desigualdade, que atinge toda população negra, mas é ainda mais incisiva contra as mulheres negras”.
Violência
Relatório divulgado pela Anistia Internacional, com dados de 150 países, aponta que no primeiro semestre de 2022, quatro mulheres foram mortas por dia no Brasil, totalizando 699 feminicídios, sendo que as mulheres negras representam 62% do total de vítimas.
“Esse cenário, que infelizmente comprova que o Brasil está longe de exterminar o racismo estrutural, reforça a razão do Julho das Pretas, que é dar visibilidade às pautas e políticas públicas necessárias para uma sociedade livre de violência contra todas as mulheres”, destaca a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes.
No setor bancário, a mulher preta representa somente 1,1% das que estão em cargos de liderança. Além disso, a remuneração média da mulher preta bancária é, em média, 40,6% inferior à remuneração do homem bancário branco.
Origem
Em 2023 está sendo realizada a 11ª edição do Julho das Pretas. Lançado em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, o período de celebração, conscientização e fortalecimento da luta de combate ao racismo voltado para as causas da mulher tem seu ponto alto no dia 25, o Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Instituída em 2014, por decreto da presidenta Dilma Rousseff, a data coincide com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1992.
Tereza de Benguela foi líder do quilombo de Quariterê, violentamente destruído em junho de 1770.
Acesse a Agenda 2023 do Julho das Pretas para se informar das atividades em todo o Brasil.
*Fonte: Contraf-CUT