Fragmentação do emprego no setor financeiro deteriora qualidade das condições de trabalho

Um Retrato dos Bancos e dos Bancários feito pelo economista Gustavo Cavarsan, da subseção da Contraf-CUT do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentou o mapeamento dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro, com subsídios para a estratégia de atuação da entidade nos próximos anos. Bancários Os bancários foram atingidos fortemente após o golpe. Em 2019, pela primeira vez na história a categoria, passou a representar menos da metade do emprego formal no ramo financeiro. Em 1994, eram 80%; em 2012, 59%; e em 2019, 47%. Nesse ano mais recente, havia 454,6 mil profissionais, com renda média de R$ 8,35 mil, sendo 76% com ensino superior. A categoria também se mostra marcada pelo traço do racismo, pois 72,7% do total eram pessoas brancas, 20,4% pardas e apenas 3,3% pardas. “Isso é importante porque a categoria bancária representa o núcleo central do ramo financeiro, com sindicalismo forte e capaz de exigir acordo coletivo consistente, inclusive com cláusulas sociais”, observou Cavarsan. Categoria bancária O estudo apresentado também mostrou as perspectivas para a categoria. Desde 2013, houve o fechamento de 83 mil vagas, sendo 63 mil delas a partir de 2016. Esses dados refletem a tendência desse mercado profissional, identificada pelo Dieese: a redução drástica do contingente da força trabalho, generalizada no país todo; o estreitamento da base da pirâmide ocupacional, que afeta mais os trabalhadores, que historicamente têm um vínculo mais forte com a sindicalização; a “gerencialização” da categoria, o surgimento de bancos digitais e o crescimento do teletrabalho. Esses dados negativos decorrem do fechamento de mais de cinco mil agências físicas no país, que passou de 22,9 mil em 2019 para 17,8 no ano passado. “Esse é movimento também ocorre em todo o país, em que cada unidade da federação teve redução de no mínimo 10% de agências”, pontuou o economista. Outra tendência é mudança no perfil da categoria. Além de diminuir como um todo, houve “o alargamento nos níveis gerenciais, com redução dos níveis mais baixos de ocupação”, pontuou o técnico do Dieese. De 2003 para 2019, os escriturários caíram de 43% para 29% e os gerentes saltaram de 19% para 23%, por exemplo. A partir de pesquisas específicas sobre o teletrabalho, o Dieese identificou vários problemas. Ao serem lançados nessa modalidade, sem planejamento, os bancários passaram a enfrentar, entre outros problemas, falta de estrutura adequada e equipamentos, aumento descontrolado da jornada, isolamento, questões de saúde, aumento de custos e ausência de auxílio financeiro. No entanto, ainda assim, 80% da categoria se manifestou dizendo que prefere atuar em home office, total ou parcial. “Isso significa que o teletrabalho vai seguir na categoria, não em 50% como foi na pandemia, mas é uma tendência”, como observou Cavarsan. Ramo financeiro O ramo financeiro, sem considerar a categoria bancária, teve um saldo positivo de 118 mil empregos, de 2013 a 2020. Assim, no setor como um todo, considerado o fechamento de 82,7 mil postos pelos bancos, houve um acréscimo de 35,2 mil vagas. Entre esses profissionais contratados, estão securitários, corretores e operadores de atividades auxiliares, que são os que não têm exatamente função definida, e em grande parte atuam nas chamadas fintechs. Como frisou o economista, é importante pontuar que “embora esses trabalhadores atuem de forma similar aos bancários, eles enfrentam condições mais precárias, com rendimentos menores e menos garantias”. Essa degradação das condições está diretamente associada a mudanças no setor, que afetam as relações com os trabalhadores. Se o número de agências foi reduzido, os correspondentes bancários só cresceram desde então. Em dezembro de 2014, eram 208,3 mil (enquanto as agências físicas eram 23,1 mil) e agora são 233,6 mil (agências, 17,5 mil). Assim, como informou Cavarsan, “quando os bancos dizem que estão migrando sua estrutura física para o digital, na verdade estão transferindo essa atividade para outras pessoas jurídicas esse atendimento, como mercados e lojas”. Setor financeiro Com essa nova formatação que o setor vem ganhando, hoje, 11,6% dos ocupados no setor financeiro já trabalham por conta própria: desde 2013 o contingente saltou de 60 mil para 157 mil, um crescimento de 160%. Esses são os profissionais que não são assalariados. Do total, 60,3% são empregados pelo setor privado com carteira assinada, 6,5% militares ou servidores estatutários e 8,7% do setor público, mas contratados pela CLT. O número de agentes autônomos de investimento também cresceu 200% desde 2016, e saltou de 6 mil para 18,1 mil no ano passado. Esses profissionais têm característica próprias: trabalham tanto como pessoa física ou jurídica, distribuem produtos de investimentos das corretoras (como XP, BTG e outras), recebem apenas comissão, trabalham em regime de exclusividade, possuem uma associação e atuam numa espécie de ensaio para a plataformização do trabalho no setor financeiro. Ou seja, são profissionais que não têm contrato, não tem jornada, nem salário. “As corretoras, como a XP, que não têm nenhum compromisso com as questões de trabalho, falam abertamente que esse é um sistema mais barato”, como informou o técnico do Dieese. Fintechs Além das corretoras, a degradação do trabalho no ramo financeiro ocorre pela atuação das chamadas fintechs, que hoje são cerca de 10 mil no Brasil, sendo apenas 10% delas regulamentadas pelo Banco Central. Há cerca de 60 mil trabalhadores. Elas se reivindicam plataformas, e isso indica que boa parte de seus trabalhadores atua de forma ‘uberizada’. Essas entidades exigem experiência para contratar os terceirizados, ou seja, querem aproveitar os trabalhadores demitidos pelos bancos. São os personal bankers, que trabalham como microempreendedores individuais e têm de pagar uma taxa para as chamadas fintechs, que não são bancos, mas terceirizam trabalho para bancos do mercado. “Ou seja, os personal bankers se cadastram como MEIs, trabalham para essas plataformas, que servem aos bancos, e fazem o mesmo trabalho que faziam como assalariados, porém sem nenhuma garantia trabalhista”.

Bancários na vanguarda da organização sindical

O 6º Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), trouxe também a discussão sobre a organização num painel com o título O Futuro do Sindicalismo, onde apresentou caminhos para a organização da classe trabalhadora no Brasil. Foram palestrantes os sociólogos Fausto Augusto Júnior, diretor Técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e Clemente Ganz Lúcio, que ocupou o mesmo cargo até 2020. Em sua apresentação, O Futuro do Sindicalismo, Augusto Júnior fez um retrato da sindicalização no país. Como informou o técnico, de 2012 a 2019, ocorreu queda sensível entre os trabalhadores ocupados no país que são filiados: a taxa foi de 16,1% para 11,2%, ou um contingente que passou de 14,4 milhões para 10,56 milhões. A redução foi próxima de 3,8 milhões, verificada com mais força entre assalariados urbanos. O grupo que inclui informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias e administrativas saiu de 1,78 milhão para 1,28 milhão de filiados, queda de 28,15%. Os dados analisados são da Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílio (PNAD contínua), do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da reforma trabalhista, o número de entidades amentou de 2016 a 2022. “Muitos dizem que há muitos sindicatos de gaveta, mas com esses números vemos que a questão do imposto sindical, extinta com a reforma, não foi tão central”, disse. “O pior problema da reforma trabalhista foi a criação da negociação individual e terceirização; isso sim está minando as bases do movimento sindical”. No entanto, os números indicam que os sindicatos representam 31% da classe que vive do trabalho. Considerado o índice de sindicalização, o universo é de apenas 11,5%. “Ou seja, temos um problema na representação política”, analisa Augusto Júnior. Desafios Entre os desafios para o movimento sindical estão a grande heterogeneidade entre seus representados, formas precárias de contratação e a desestruturação do próprio mercado de trabalho, como um todo, decorrente da recessão, baixo crescimento, a pandemia e a reforma trabalhista. “Pra mim é um absurdo compararmos uma trabalhadora bancária a uma trabalhadora doméstica: a bancária tem 180 dias de licença maternidade; já a trabalhadora doméstica dá à luz hoje e se não trabalhar amanhã, pode não ter o que comer”, ressaltou. A busca por novos associados também deve ser um alvo. “A sindicalização está reduzindo, sim; e o pior: os jovens estão se sindicalizando menos”, disse o sociólogo. As principais questões que afetam a atuação sindical no setor financeiro estão relacionadas às alterações do perfil da atividade, redução da força de trabalho, o surgimento de entidades não bancárias no setor (como corretoras e fintechs) e o crescimento de atividades auxiliares ligadas a elas, que não são plenamente reguladas, como forma de burlar os direitos trabalhistas. A mudança do perfil do trabalhador no ramo financeiro é questão decisiva a ser enfrentada. Com o avanço tecnológico, houve crescimento dos chamados agentes autônomos de investimento em 121% nos últimos 10 anos, além de outros profissionais que prestam serviço para corretoras, correspondentes bancários e fintechs. Por atuarem por conta própria ou como pessoa jurídica, esses profissionais também se afastam da sindicalização e podem enfraquecer a negociação coletiva, que tradicionalmente tem assegurado garantias econômicas e sociais a toda a categoria bancária. “Os bancários estão na vanguarda do movimento, e tem conquistas muito acima da média de toda a classe trabalhadora, por isso, pensar a reformulação do movimento sindical é ter a categoria bancária como referência”, refletiu. Bancários na vanguarda Entre os pontos importantes para a luta sindical, Augusto Júnior indica que a categoria bancária, por seu tamanho e pela sua organização, deve seguir na vanguarda da representação coletiva. Para isso, conforme pesquisa do Dieese, a categoria deve perseguir cada vez mais a valorização do processo negocial, acordos específicos para fiscalização das condições de trabalho, aperfeiçoamento de assembleias e encontros virtuais e desenvolvimento de mecanismos para a compreensão das demandas dos trabalhadores. “Um enorme dilema é representar o já representado; e o pior problema da reforma trabalhista foi a criação da negociação individual e terceirização, que afeta a categoria; isso sim está minando as bases do movimento sindical”, avalia Augusto Júnior. Na conjuntura atual, o diretor técnico do Dieese apontou uma série de desafios imediatos a serem superados pelas entidades que representam os trabalhadores. A adesão ao home office, fortalecida na pandemia é uma delas. Segundo pesquisa do Dieese, 38% dos bancários declaram querer permanecer apenas nesse regime, mas o sentimento de autonomia que essa opção confere pode contribuir para um forte aumento da rotatividade na categoria, e isso exigirá novas estratégias de ações coletivas, diferentes da que temos hoje. “O modelo de hoje não dá conta do mundo do trabalho, e a pergunta é sobre como vamos avançar”, diz. Augusto Júnior orientou que, por esse cenário, algumas resoluções do 13º Congresso Nacional da CUT (Concut), de 2019, devem ser observadas, em especial a ampliação da representação de toda a classe trabalhadora, e com isso ultrapassar o conceito de categorias e partir para o ramo de atividade. “É muito importante para o movimento sindical que, além da luta pela formalização do emprego, busque-se a inclusão dos profissionais com vínculo trabalhista precário, dos informais e dos desempregados; dessa forma, as entidades sindicais se tornarão espaço de articulação e unidade em torno dos interesses comuns de todos os segmentos da classe trabalhadora”, conclui.

Comando Nacional dos Bancários vai cobrar da Fenaban volta do home office

O Comando Nacional dos Bancários vai se reunir na próxima terça-feira (18) com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) para discutir a adoção de medidas preventivas para proteger a categoria diante do aumento no número de casos de contaminados pela Covid-19 que atinge todo o Brasil. Um dos pontos a ser tratado no encontro, que acontecerá de forma virtual, será a retomada e, até mesmo, a ampliação do home office, que deixou de ser adotado por alguns bancos. “Nos queremos chamar a atenção da Fenaban e dos bancos para a gravidade do momento. O contágio está muito mais elevado e se não forem tomadas medidas, podemos voltar a perder muitas vidas”, alertou o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Vinicius Assumpção. O VP lembra que, no início da pandemia, o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban firmaram um acordo com medidas protetivas que foi importante. “Tivemos medidas fortes quando começou a pandemia. Flexibilizar as medidas protetivas neste momento é uma tremenda irresponsabilidade. Os bancos que não levarem em conta a gravidade do momento podem ser responsáveis pelo aumento da doença e do número de mortes na categoria. Estamos passando pelo pior momento da pandemia. Não tem sentido argumentar que os bancários não devem voltar ao home office. Vamos cobrar fortemente isso, mas também outras medidas que foram flexibilizadas, como rodízio e controle de atendimento nas agências.” “Neste momento de mais uma onda da pandemia, na qual o contágio se mostra muito maior, todo cuidado é pouco. Desde início da pandemia buscamos a proteção da vida e da saúde como elemento central. Infelizmente, a Covid-19 não nos dá trégua. Por isso, nós não podemos baixar a guarda nas medidas protetivas. Os bancos precisam, urgentemente, praticar protocolos rígidos, que se mostraram eficazes, para proteger seus trabalhadores. É assustador o número de contaminados nos ambientes de trabalho e nos preocupa que os bancos não entenderem a gravidade do momento”, lamentou Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT. Fonte: contraf-CUT

Sindicato realiza série de lives para discutir Saúde Mental dos bancários

As consequentes mudanças do mundo atual, as pressões por metas e o trabalho exaustivo, especialmente da categoria bancária, leva os trabalhadores à exaustão mental por conta da rotina. Outubro é o mês em que se orienta sobre a importância da prevenção ao câncer de mama, mas também tem um dia dedicado mundialmente a falar sobre a Saúde Mental. E em comemoração a essa data, 10 de outubro, o Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense organizou uma semana de atividades online voltada para a necessidade de refletir sobre os diversos distúrbios mentais que particularmente acometem os bancários atualmente. Serão publicações com orientações nas redes da entidade e também três importantes “lives” com especialistas abordando temas importantes que podem ajudar quem passa por momentos difíceis mentalmente por conta das pressões. “Essas são as primeiras atividades para o desenvolvimento de um plano de ação em saúde do trabalhador que o seu BancarioSul pretende desenvolver. Queremos estimular esse debate que é tão urgente, ao mesmo tempo negligenciado pela sociedade e empresas, e apoiar os bancários e bancárias na recuperação de uma saúde mental mais saudável. Toda programação foi pensada na categoria”, afirma Júlio Cunha, presidente do Sindicato. Anote na sua agenda e participe das lives que terão transmissão na página do Facebook do Sindicato (@bancariosul). Clique no link a seguir e curta a página: https://www.facebook.com/bancariosul Programação das Lives 10 DE OUTUBRO – DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL Live 1 – Dia 13 de outubro Os principais transtornos e acometimentos, sintomatologia e tratamento para recuperação de uma vida mental saudável no trabalho e na vida do bancário Palestrante: Dra. Ana Luíza – Psicóloga Data: 13/10 Hora: 19h Facebook do Sindicato @bancariosul Live 2 – Dia 14 de outubro Os direitos dos bancários e os procedimentos junto à empresa e ao INSS Palestrante: Dra. Anne Mejia – Advogada Previdenciária Data: 14/10 Hora: 19h Facebook do Sindicato @bancariosul Live 3 – Dia 19 de outubro O adoecimento mental na categoria bancária e as ações sindicais na busca do seu enfrentamento Palestrante: Plínio Pavão, ex-Secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-Cut Data: 19/10 Hora: 19h Facebook do Sindicato @bancariosul

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