A gestão de pessoas com deficiência e neurodivergentes da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil foi tema de audiência pública, realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados, na terça-feira (13). Durante a reunão foram discutidas as condições de trabalho desses profissionais nas instituições financeiras.
A discussão foi aberta pelo secretário de saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), Mauro Salles. Ele pontuou que os bancos tratam os trabalhadores neurodivergentes ou com deficiência somente como adequação à lei e não como uma política de gestão inclusiva.
“Os bancos precisam cumprir a lei e adotar política de gestão que acolha os PCDs e neurodivergentes. E lembrar que isto não é uma concessão. É obrigação garantir condições de trabalho dignas a essas pessoas, que são sujeitos sociais e de direito”, ressaltou Salles.
A representante da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte (Fetec-CUT/CN), Rafaela Freitas Oliveira, afirmou que o ambiente de trabalho na Caixa apresenta diversos desafios para promoção de um ambiente profissional acessível de igualdade de oportunidades, garantindo recursos tecnológicos adequados para estes profissionais.
Já a secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato dos Bancários de Brasília, Vanessa Sobreira, falou sobre uma cultura organizacional mais inclusiva. Ela lembrou que a Caixa foi obrigada a contratar pessoas com deficiência para atingir os 5% previsto pela Lei das Cotas. E acrescentou que estes trabalhadores criaram pautas de reivindicações, mas a Caixa se recusou a negociar.
Do preconceito ao descomissionamento
Quem descreveu a situação de despreparo e preconceito da Caixa foi Larissa Argenta de Melo. Empregada da instituição há 17 anos, ela se descreveu como autista, com altas habilidades além das comorbidades de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Processamento Sensorial (TPS). Larissa contou sua história desde quando entrou no banco, aos 21 anos, com diagnóstico de Transtorno Bipolar.
“Desde aquele momento eu já me enquadrava como uma neurodivergente e não foi fácil sobreviver no sistema financeiro”, disse.
Larissa informou que progrediu na carreira por meio de Processos Seletivos Internos (PSI) sem nenhum tipo de avaliação ou adaptação específica para neurodivergentes. Conquistou ascensões funcionais, mas não conseguia a manutenção dos cargos. Sofreu inúmeros episódios de assédio moral durante a gestão Pedro Guimarães, sendo criticada em relação à sua dispersão, entre outras características. A situação foi tão desgastante que ficou seis meses afastada da empresa. Neste período recebeu o diagnóstico de autismo.
“Quando retornei e coloquei a minha condição de autista fui imediatamente descomissionada e ‘encostada’. E essa é minha realidade na Caixa até hoje”, afirmou.
O salário de Larissa caiu de R$ 16 mil para R$ 2.800.
Autora do requerimento para a realização da audiência, a deputada Erika Kokay (PT/DF), informou que vai conversar com as empresas. Segundo ela, entre as propostas apresentadas, está a inclusão de terapias e reembolso de medicamentos para os planos de saúde de autogestão dos bancos.
Fonte: Contraf-CUT e Fenae