POR QUE PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO
Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Pela nossa Constituição Federal de 1988, a saúde é um direito de todos e um dever do Estado.
Até a nossa atual e combalida CLT prevê as responsabilidades das empresas na manutenção da integridade da saúde dos trabalhadores.
E apesar de toda essas legislações protetivas o Brasil infelizmente é um dos campeões em número de acidentes, mortes e doenças relacionadas ao trabalho.
As mudanças implementadas em todo mundo na organização do trabalho através da chamada reestruturação produtiva, com a introdução de novas tecnologias, novas formas de gestão de mão de obra, para aumentar a produtividade, teve como consequência a intensificação no ritmo, intensidade e controle do trabalho.
Particularmente nos bancos, com essas “ferramentas” também houve alterações no modelo de negócios, sendo a venda de produtos e serviços financeiros se tornado a principal atividade, e o trabalho baseado no atingimento de metas, cada vez mais inexequíveis é a realidade.
O assédio organizacional – práticas de gestão voltadas para a produtividade, abriu espaço para o assédio moral.
Com ambientes de trabalho cada vez mais exigentes, competitivos, novas relações de trabalho aos poucos foram quebrando os laços de solidariedade e substituindo por um individualismo como forma de sobrevivência no cargo ou no emprego.
Os ambientes de trabalho vão se tornando hostis, com muitas tarefas, cobranças e poucos trabalhadores para dar conta de tudo.
Essa gestão fortemente baseada na planificação e cobrança por resultados inibem outras condições fundamentais à realização humana: a subjetividade e o sentido de realização profissional.
Soma-se a isso tudo uma segmentação de clientes cada vez mais seletiva, uma profunda crise econômica, tornando praticamente impossível entregar o resultado cobrado. Não por falta de empenho ou dedicação pessoal. Ao contrário.
Ainda existe uma verdadeira crise de identidade moral nos bancários, porque nesse cenário, se vêem obrigados a “vender” produtos que se tivessem escolha não o fariam.
Aos poucos a angústia, tristeza, a fadiga, ansiedade e o estresse vão se instalando, sem se perceber.
Fato é que nos últimos anos as doenças psicossomáticas já são maioria dos afastamentos do trabalho.
A Síndrome de Burnout já é uma verdadeira Pandemia entre os bancários. Essa síndrome se caracteriza pelo esgotamento físico e emocional, necessitando o afastamento do posto de trabalho.
Segundo a OMS a Bournout é um estresse crônico e já atinge em algum grau a maioria dos trabalhadores no mundo.
Além do desconhecimento natural em reconhecer essas situações, os bancários receosos por perderem a função ou o próprio emprego protelam na busca do tratamento adequado. O que quando ocorre, os problemas já estão agravados.
Temos visto ser comum também outros problemas decorrentes da não abordagem correta, que são decorrentes de automedicação, problemas trabalhistas e previdenciários ocasionados pelo desconhecimento dos direitos e legislações, prazos e procedimentos.
A pandemia da Covid19, o isolamento social necessário, as novas modalidades como o teletrabalho-home office agravaram essas condições. O ano de 2020 bateu um novo recorde na concessão de auxílio doença e aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais, chegando a 576,6 mil afastamentos , segundo dados da Secretaria Especial da Previdência e Trabalho – uma alta de 26% em relação a 2019.
Isso com toda a dificuldade que sabemos ter nos atendimentos no órgão previdenciário.
Dados do INSS já apontam que hoje 63% dos novos afastamentos já são relacionados a esses problemas de saúde mental.
Por isso que abordar essas questões são fundamentais.
A busca do equilíbrio entre a vida e a realização do trabalho é cada vez mais imprescindível, e de interesse de toda sociedade.
Essa discussão há muito já não é apenas transversal ou tangencial às condições e relações de trabalho. São vitais.