De acordo com estimativas da OIT/OMS, as doenças relacionadas ao trabalho foram responsáveis por quase 2 milhões de mortes por ano, no mundo inteiro, entre 2000 e 2016, provocadas principalmente por doenças respiratórias e cardiovasculares.
As informações fazem parte da reportagem publicada pela Rede Brasil Atual e assinada por Vivian Machado, técnica do Dieese, na Subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT),.
Segundo o estudo, jornadas menores de trabalho podem reduzir número de mortes, melhorando o equilíbrio entre suas vidas pessoal e profissional, com redução do estresse e de algumas síndromes ocupacionais, como a Síndrome de Burnout. É preciso ter mais tempo disponível para outras atividades, como lazer e descanso, e tempo para cuidar da saúde física e mental.
No setor bancário, devido ao número crescente de afastamentos por doenças ocupacionais, representantes da categoria iniciaram, em 2022, uma discussão com os bancos sobre a possibilidade de redução de jornada para esses trabalhadores já adoecidos pelas condições de trabalho. A íntegra desse estudo compõe a 26ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), disponível em: www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs.
Com os investimentos em tecnologia e o acelerado processo de digitalização das transações, os postos bancários no país diminuem significativamente desde 2013, assim como o número de agências bancárias. A pressão sofrida pelos trabalhadores que permanecem no setor faz adoecer física e mentalmente muitos deles, levando-os a se afastarem do trabalho.
Entre 2013 e 2020, foram registrados 20.192 afastamentos de bancários, com alta de 26,2% entre 2015 e 2020, 1,7 vez acima do crescimento dos afastamentos em geral registrados no país (de 15,4% no período).
Até 2012, as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo eram a principal causa de afastamento de bancários, correspondendo a mais de um quarto dos benefícios concedidos pelo INSS no período.
Porém, desde 2013, os transtornos mentais e comportamentais tornaram-se a principal causa dos afastamentos na categoria. Um quadro que se agrava ano após ano, chegando a 40% dos benefícios por incapacidade temporária previdenciários e a 57% dos benefícios por incapacidade temporária acidentários, em 2022. No país, em relação ao total dos afastamentos acidentários por doenças mentais e comportamentais, os afastamentos de bancários correspondiam a 12% do total em 2012 e a 25%, em 2022.
Pandemia
O relatório da OIT/OMS ressalta que a carga de doenças relacionadas ao trabalho, muito provavelmente, seja substancialmente maior, tendo em vista que, futuramente, deva ser quantificada a perda de saúde relacionada a diversos outros fatores de risco ocupacionais, como as sequelas deixadas pela Covid-19.
Durante a pandemia, observou-se crescimento do fechamento de postos de trabalho de bancários por morte, que cresceu 73% em 2021, chegando a 575 desligamentos, em grande parte, por conta de síndromes respiratórias ou Covid-19, muito provavelmente.
Após a pandemia, observou-se um novo fenômeno no mercado de trabalho, com um crescente número de desligamentos a pedido, ainda que a situação econômica do país ou mesmo do mercado de trabalho não fosse das melhores, com elevados índices de inflação, desemprego e subocupação.
O percentual de desligamentos a pedido no total de desligamentos na categoria bancária foi ainda mais significativo, superando a média nacional nos últimos anos, chegando a quase metade dos desligamentos em 2022 (43,4% do total), enquanto no país o percentual dos desligamentos a pedido foi de 33,4%.
Segundo a reportagem, todos esses dados demonstram que há problemas sérios na cultura organizacional dos bancos. Uma gestão cada vez mais competitiva que adoece muitos trabalhadores. Um setor que deveria atender aos interesses da população, mas fecha agências e postos de trabalho, “empurrando” seu público para o atendimento digital.
*Fonte: Rede Brasil Atual