Presidente do Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense, Júlio Cunha, mediou o evento
A Federa-RJ (Federação das Trabalhadoras e Trabalhadores do Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro) realizou na noite desta quinta-feira, 30 de setembro, live com o tema ‘O cenário do comportamento suicida no Brasil’. O evento foi uma atividade alusiva a campanha Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio.
Mediada pelo vice-presidente da Federa-RJ e também presidente do Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense, Júlio Cunha, a transmissão ao vivo contou com a participação da Mestre e Doutora em Saúde Coletiva pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e USP (Universidade de São Paulo, professora Letícia Legay, além do coordenador da Secretaria de Saúde da Federa-RJ, Edilson Cerqueira, o coordenador da Secretaria de Saúde do Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense, Miguel Pereira e diretores sindicais de várias localidades do Estado.
Logo na abertura do evento, Júlio Cunha ponderou sobre como o cumprimento de metas exigidas pelas instituições bancárias tem afetado a saúde psicológica da categoria. “As metas impossíveis de serem alcançadas associadas às cobranças abusivas praticadas pelos bancos e a imposição aos bancários de aparentar sucesso a todo momento e até de vender produtos dos quais ele mesmo não acredita tem provocado uma crise moral nos bancários e bancárias. Alguns, na tentativa de cumprirem as metas chegam a situação constrangedora de ter que vender esses produtos a seus familiares e amigos. Tudo isso, somado a tamanha insegurança de perder tudo de um momento para o outro tem impactado sobre o crescimento dos índices de depressão, ansiedade e de esgotamento profundo entre os trabalhadores”.
Júlio Cunha disse ainda que a Síndrome de Burnout é quase uma epidemia entre a categoria bancária. “Todos esses fatores se não observados e tratados a tempo podem levar ao suicídio. Essa é a nossa grande preocupação com a categoria, até porque o suicídio no Brasil ainda é tratado com muito tabu”, enfatizou o presidente, destacando que o Sindicato está à disposição para conversar sobre a questão e prestar apoio ao bancário e bancária que precisar.
Edilson Cerqueira, disse que à frente da direção do Sindicato dos Bancários de Niterói, revelou que muitos profissionais chegam até ele e expressam a possibilidade de tirar a própria vida em função dos problemas acarretados pelos assédio moral e o cumprimento de metas.
SUICÍDIO – Durante a live, a mestre Letícia Legay analisou que quando a pessoa pensa no suicídio, ela busca uma solução para os seus problemas. “O sofrimento psíquico é tão forte que ela não consegue enxergar alternativas a não ser tirar a própria vida diante da dor insuportável da qual está acometida. Por isso, o papel de apoio dos Sindicatos e outras instituições são tão importantes na sociedade, funciona como um botão de alerta para que novas oportunidades possam surgir no dia a dia dos cidadãos. É preciso ouvir as pessoas, de forma especial, sem culpabilizá-las e sem buscar as causas do problema”.
Letícia também abordou o suicídio ao longo da história da humanidade e relatou sobre dados atuais do fenômeno no Brasil e no mundo. “Cerca de 800 mil pessoas/ano cometem o suicídio, sendo que 79% desse total estão concentrados nos países de baixa e média renda. No Brasil, aproximadamente 11 mil pessoas/ano tiram a própria vida. Em números gerais, o suicídio já é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos de idade; em nosso país a quarta causa de óbito entre essa mesma faixa etária”.
As taxas de suicídio, segundo a mestre da USP, estão associadas a diversos fatores, como: depressão, comportamento impulsivo, uso de álcool e outras drogas, abuso emocional, físico e sexual.
Na sequência, foram considerados os controles dos meios da população considerada vulneráveis e suscetíveis ao suicídio e os atendimentos realizados nos consultórios médicos. “Há, com freqüência, profissionais para prescreverem medicamentos em detrimento do acompanhamento e apoio necessários nesses casos”.
Durante a transmissão, os participantes tiveram a oportunidade de interagir com a professora Letícia Legay. O dirigente Miguel Pereira foi um deles e analisou a pesquisa feita pela UnB (Universidade de Brasília), a qual revela que 181 bancários suicidaram-se no Brasil, entre 1996 e 2005 e que até a concretização do ato, são praticadas pelos menos duas tentativas. “A partir desses dados, o Sindicato de Brasília acabou criando uma clinica de atendimento na própria entidade com a finalidade de barrar esses números. Precisamos avaliar a possibilidade e viabilidade de desenvolver esse tipo de trabalho, já que o bancário hoje interage apenas com planilhas eletrônicas para cumprimento de metas”.
A pandemia da Covid-19 e suas consequências, como o teletrabalho, estiveram presentes durante as abordagens debatidas na live, assim como a pressão psicológica sofrida pelos atletas durante as competições, como as olimpíadas.
Por fim, os encaminhamentos apontam que apesar de ainda ser um tabu, e tratado com preconceito, é preciso falar sobre o suicídio, jogado luz sobre suas causas e enfrentá-las. Assim como os bancários nos anos 90/2000 se organizaram para buscar soluções para os casos de LER/DORT, com as mudanças no trabalho bancário, agora novamente precisamos combater o sofrimento psicológico nesses mesmos ambientes, além do uso indiscriminado de medicamentos ‘tarja preta’. É urgente a busca por locais mais saudáveis, respeitosos dos limites humanos, sem assédios, com mais solidariedade entre todos e efetiva valorização profissional.
Os Sindicatos estão atentos a essas questões. Além do atendimento diário aos já acometidos, principalmente, pela Síndrome de Bornout, às dificuldades de atendimento junto ao INSS e às empresas de saúde ocupacional-medicina do trabalho. Também estão sendo discutidas internamente algumas medidas e uma política efetiva de promoção da saúde dos bancários e das bancárias.
Fonte: Sind. Bancários do Sul Fluminense