Sindicato dos Bancários e UFF-VR lançam projeto sobre acompanhamento do adoecimento mental na categoria

Iniciativa envolve universitários extensionistas do curso de Psicologia e visa à produção de conhecimento e dados estatísticos que viabilizem traçar ações de acolhimento aos já adoecidos e possam prevenir o surgimento de novos casos.  O Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense e o campus da Universidade Federal Fluminense em Volta Redonda (UFF-VR), por meio da Extensão do Curso de Psicologia, lançaram nesta quarta-feira (23) o projeto Saúde Mental no Trabalho Bancário, uma parceria para o desenvolvimento de estudos da saúde mental da categoria da região no contexto do ambiente de trabalho. Com a iniciativa, a entidade sindical pretende desenvolver uma política de atenção à saúde de forma eficaz para os casos de adoecimento de origem psicossomática e, principalmente, traçar ações que evitem e previnam os avanços dessas doenças provocadas pela pressão dos bancos e o acúmulo de exigências, entre eles o cumprimento de metas cada vez mais insuportáveis. No evento, que ocorreu no auditório da UFF-VR, o diretor presidente do Sindicato, Júlio Cunha, ressaltou que o número de associados à entidade gira em torno de 1.100 bancários e que, atualmente, de acordo com informações do cadastro do Sindicato, pelo menos 120 deles estão afastados pelo INSS devido às doenças psicológicas e psiquiatras. Mas esse número é muito maior. “Hoje, as ações do Sindicato são baseadas em indicadores “oficiosos”. Nós queremos ter dados que nos permitam o mapeamento fidedigno do quantitativo de trabalhadores bancários doentes, afastados de suas funções pelo INSS, daqueles que continuam na ativa e usam medicamentos tarjas pretas e ainda daqueles que se encontram na fase de negação da doença”, afirma. Júlio ainda destaca a importância do projeto no levantamento de dados reais. “A produção desses dados vão referenciar as nossas ações, não somente da perspectiva do acolhimento, mas também da orientação trabalhista e do tratamento, que precisa ser mais humanizado. Na nossa concepção, esses trabalhadores precisam sentir que não estão sozinhos, ter espaços coletivos, tampouco se culpabilizarem pela situação que estão vivenciando. O Sindicato acredita que desta maneira será possível produzir ações mais contundentes de apoio e acompanhamento da categoria, visando inclusive, a prevenção ao suicídio, prática que tem aumentado expressivamente nos últimos anos entre os bancários. É absurdo a gente pensar em uma instituição bancária, que se consolida como uma indústria tão sofisticada do ponto de vista tecnológico, mas que deixa as pessoas nesse estado deplorável de saúde por conta do trabalho e suas imposições”, concluiu Júlio Cunha. O diretor do departamento de Saúde do coletivo de trabalhadores, Miguel Pereira, afirmou que a reforma trabalhista, a reestruturação dos bancos públicos e as demissões em massa nos bancos privados agravaram a situação. “Mesmo com lucros nas alturas, a ameaça de demissão é constante que somadas ao cumprimento de metas e outras exigências são angustiantes na rotina dos bancários. Situação agravada muitas vezes pelo assédio moral. Para se ter ideia da gravidade da situação, os afastamentos por conta dos transtornos psiquiátricos já superaram as doenças osteomusculares (LER/DORT) que por muitos anos foram campeãs de incidência entre a categoria”, completou. A expectativa do coordenador do curso, Ricardo Pena, é que os dados consolidados pelos universitários extensionistas possibilitem mudanças estruturais na rotina bancária. “Uma das funções da universidade pública é estar aberta ao público e produzir novos saberes. Especificamente, nesta proposta de cooperação com o Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense, nosso intuito é contribuir com a consolidação de dados frente à nova ordem mundial para a criação de um mundo mais humanizado”. A chefe do Departamento de Psicologia, Priscila Alves, explicou que os trabalhos serão produzidos com fundamentação em pesquisas, estudos teóricos e construções coerentes. “Para os nossos alunos, este trabalho será muito importante, já que vamos começar do zero, mostrar como se constrói esses saberes consistentes na busca pela saúde. Vale destacar que, muitas vezes essas doenças são invisíveis e acabam desqualificadas no mundo do trabalho”. A pesquisa denominada “Atenção à saúde mental do trabalhador bancário do Sul Fluminense” será coordenada pelos professores Dra. Maria Elisa Siqueira Borges, que é ex-bancária, e o Dr. Fernando Faleiros de Oliveira, e tem o objetivo de produzir e consolidar dados e estatísticas sobre a situação da saúde mental desse grupo de trabalhadores; construir e efetivar ações que identifiquem prováveis causas e soluções e possibilitar que o trabalho não seja causa de sofrimento, adoecimentos e mortes; articular com outros atores e órgãos públicos, no sentido de construir relações de trabalho mais justas e saudáveis. O inventário sobre o trabalho de risco e adoecimento (INTRA) avaliará o contexto da realização da atividade bancária (organização do trabalho; condições de trabalho; relações socioprofissionais); o custo humano do trabalho (físico, cognitivo e afetivo); os danos relacionados ao trabalho (físico, sociais e psicológicos); além dos indicadores de prazer e sofrimento no trabalho (realização profissional; liberdade de expressão; falta de reconhecimento; falta de liberdade de expressão. físicos; danos psicológicos). A intervenção será definida após a análise dos dados, mas algumas ações já foram elencadas, como plantão psicológico e grupos de escuta. Indicadores sobre as doenças psicossomáticas Por enquanto, são precárias as estatísticas reais sobre o número de bancários adoecidos e afastados de função em decorrência das doenças psicológicas e/ou psiquiátricas. Os indicadores, segundo Miguel Pereira, são baseados na suspensão dos descontos da mensalidade sindical. “Os bancos não emitem CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) para esses adoecimentos, portanto a nossa referência em relação ao banco privado é a suspensão da mensalidade sindical. O mesmo não ocorre com os bancos públicos, pois eles continuam gerando a folha de pagamento e nem essa informação obtemos de pronto. E se o bancário não nos contata, não temos essa informação. Outro detalhe é que esses dados se referem apenas aos bancários sindicalizados. Isso não quer dizer que outros profissionais não estejam doentes. E como essas doenças são psicológicas e/ou psiquiátricas as pessoas vão até o seu limite. Ao suspeitarem do problema passam pela fase da negação. Não, eu tomo um remedinho aqui e vou dando conta, eu vou conseguir, eu vou superar. Até que chegam no ápice do limite, surtam ou

Empregados voltam a pedir descentralização no atendimento do Saúde Caixa

O Grupo de Trabalho (GT) Saúde Caixa, composto por representantes do banco e dos empregados e empregadas da Caixa Econômica Federal, se reuniu na quarta-feira (23) para debater sobre questões específicas do plano de saúde. Durante a campanha salarial, a Comissão Executiva de Empregados (CEE) da Caixa) já havia cobrado a descentralização do atendimento e o retorno das estruturas de Gestão de Pessoas (Gipes) nos estados. “Vamos insistir sempre na descentralização do atendimento do Saúde Caixa e em ter informações detalhadas sobre as microrregiões. A gente recebe muita demanda e precisa saber o que acontece além dos grandes centros”, destacou coordenador do GT Saúde Caixa, Rafael de Castro, que é diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Segundo informações apresentadas pela Caixa, os maiores impactos financeiros do plano em 2022, em comparação com 2021, são referentes ao atendimento em pronto-socorro, com aumento de mais de 36% e medicamentos quimioterápicos – um crescimento de mais de 28%. Já em referência ao volume de atendimento, os maiores crescimentos foram em pronto-socorro –acima de 62%– e internações –mais de 19% de aumento. Para a dirigente do Sindicato dos Bancários de Campinas e Região, Lilian Minchin, o aumento do número de atendimentos em pronto-socorro reflete a carência de rede credenciada e/ou a demora em se conseguir atendimento na rede. “As pessoas precisam de atendimento e acabam recorrendo ao pronto-socorro porque não encontram especialistas na rede credenciada”, observou. Para o dirigente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Sérgio Amorim, a demora no agendamento em consultórios é outro motivo. “O que aumenta muito o número de atendimentos em pronto-socorro é a falta de uma rede credenciada para consultas eletivas, além do prazo de agendamento nos consultórios. Há especialistas que demoram 60 dias para atender. Isso leva as pessoas a buscarem o pronto-socorro”, avaliou. As sessões de psicoterapia também tiveram aumento de quase 21% nos custos. Sobre este recorte, Rafael de Castro solicitou informações mais detalhadas. “São números que atestam a pesquisa da Fenae sobre o adoecimento mental dos empregados por conta de assédio e pressão no local de trabalho”, afirmou o dirigente. “Outro aspecto é que, nesse sentido, o banco delega o tratamento ao próprio empregado, onerando mais o plano, sem eliminar a causa dos transtornos”, observou. Na próxima reunião, com data a ser definida, o banco deve apresentar o relatório atuarial de 2022 e as projeções atuariais que vão definir as negociações de 2023. O acordo atual tem validade até 31 de agosto do próximo ano. Fonte: Fenae, com edições da Contraf-CUT.

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