“Suicídios na categoria reforçam necessidade de medidas protetivas”

Para o secretário de Saúde da Contraf-CUT, é preciso registrar a situação trágica para transformá-la e responsabilizar quem despreza a saúde e a vida das pessoas O secretário de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mauro Salles, acredita que os recentes casos de suicídios de bancários em todo o Brasil reforçam a necessidade de que medidas sejam tomadas para proteger a integridade física e mental dos colegas. “Suicídio tem múltiplas causas, mas o trabalho é um potencial detonador e nos faz refletir sobre o momento de enorme tensão em que os bancários estão trabalhando. Nossa categoria está triste, pressionada, com medo do futuro e com alto índice de adoecimento psíquico”, disse. Salles lembrou o recente estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que analisou os dados da Previdência Social e apontou os bancos como responsáveis por 15% dos afastamentos por causas mentais entre setores de atividade econômica, nos anos de 2012 a 2017. A proporção aumenta para 16% se considerar os afastamentos por depressão. Enquanto nos demais setores a elevação de benefício por Transtorno Mental foi de 19,4% entre 2009 e 2013, no setor bancário chegou a 70,5%. “Provavelmente a situação atual está mais grave”, lamentou o secretário. De 1996 a 2005 ocorreram um suicídio a cada vinte dias entre os bancários. Em muitas situações nos próprios locais de trabalho. Mauro Salles cita o psiquiatra francês Christophe Dejours, “o facto de as pessoas irem suicidar-se no local de trabalho tem obviamente um significado. Os suicídios nos locais de trabalho são reveladores de profunda degradação da vida e da solidariedade, fato que não pode ser banalizado. É uma mensagem extremamente brutal e aponta ligação com as situações de trabalho.” Em matéria do El País, Llorens Serrano, pesquisadora da Universidade Autônoma de Barcelona e do Instituto Sindical de Trabalho, Ambiente e Saúde (ISTAS), se referindo a uma metarrevisão de 72 estudos mundiais nos últimos dez anos, afirma que, quando se trabalha em condições precárias e com baixo poder decisório sobre as tarefas, a possibilidade de cair em depressão é de 77%. Se a insegurança trabalhista é elevada, a possibilidade é de 71%, e de 77% no caso da ansiedade. Outra pesquisa do Dieese, desta vez sobre Teletrabalho, mostra o alto índice de pessoas com medo de ser esquecidos/dispensados (56,8%); ansiedade (65,4%), entre outras questões preocupantes. Nos dados preliminares de pesquisa sobre sequelas da Covid-19, realizado em parceria com a Universidade de Campinas (Unicamp), também aparecem questões preocupantes: Não me sinto alegre (45%); cabeça cheia de preocupações (67,1%). “São dados que ilustram a situação de alerta à qual devemos estar atentos. Vivemos um momento de alto risco para que aconteçam ainda mais tragédias contra os trabalhadores. A pressão exercida pelos bancos para garantir resultados, utilizando métodos perversos, está deixando os bancários em um nível de sofrimento extremo. Isto tem levado a um número crescente de adoecimento psíquico. Também, no extremo do desespero, produz nível elevado de suicídios”, afirmou o secretário de Saúde da Contraf-CUT. Contexto atual é de alto risco De acordo com Mauro Salles, no contexto atual há uma conjunção de fatores que potencializa tragédias, como um mal-estar da civilização com desemprego, desigualdade, falta de perspectiva, medo de perder emprego, de não estar à altura, de não poder sustentar sua família. “As mudanças profundas no mundo do trabalho bancário, com reestruturações permanentes, mudanças no modelo de negócio, demissões, descomissionamentos… A concorrência no setor aumenta a pressão sobre os bancários, onde a exigência de resultados com metas abusivas, com a proliferação do assédio moral, tem impactado a saúde”, explicou. Segundo o dirigente da Contraf-CUT, a pandemia agrava a situação. “Mais uma vez o medo. Medo do contágio, de adoecer, necessidade de proteger familiares, em um convívio com a morte que está à nossa volta. Agravando a situação vemos os bancos intensificarem a pressão em um momento de crise sanitária. Somam-se a isso as instituições hostis. Um governo Federal que faz de tudo para prejudicar os trabalhadores, com constantes ataques aos nossos direitos, desmontando a fiscalização do trabalho e dificultando o acesso aos direitos previdenciários. O Congresso votando medidas contra os direitos, com retrocessos poucas vezes vistos. E a balança do judiciário pende a favor do capital.” Medidas urgentes são necessárias Como inúmeras pesquisas indicam, há estreita ligação do adoecimento com as políticas de pessoal. “Como prescreve a legislação, precisamos exigir dos bancos políticas efetivas de prevenção, monitoramento e controle da saúde dos bancários, nas quais o imperativo seja reconhecimentos dos riscos ergonômicos, psicossocial e agora o biológico. Da mesma maneira, é essencial que haja uma atenção aos colegas que adoecem, garantindo condições para tratamento. E, acima de tudo, o fim das metas abusivas, o consequente assédio moral e a pressão pelos resultados. Não podemos deixar de apontar a necessidade de cobrar a responsabilidade dos bancos em relação às sequelas da Covid-19 em colegas infectados, pois elas impactam a vida profissional e a saúde. Ainda mais quando temos notícias de colegas trabalhando sem as condições plenas de saúde. Sem esquecer que vamos conviver com a pandemia por um tempo indeterminado e devem ser mantidas as medidas protetivas dos ambientes de trabalho e dos trabalhadores”, apontou. Para o secretário de Saúde da Contraf-CUT, é necessário registrar essa situação trágica para podermos, ao conhecer e reconhecer a realidade, transformá-la, responsabilizando quem despreza a saúde e a vida das pessoas, em todas as esferas sociais. “Estamos avisando que estes riscos psicossociais levam a inúmeras situações de adoecimento. Precisamos enfrentar a situação onde os empregadores têm responsabilidade. Através da luta comunitária, reatando nossos laços solidários, os homens e as mulheres podem e devem controlar os bancos. Só assim poderemos evitar as tragédias cotidianas que assolam nossa categoria”, finalizou. Fonte: Contraf-CUT
BB “reestrutura a reestruturação” para manter salários rebaixados e responsabilidades altas

Banco do Brasil anunciou transformação da PAA’s em “Lojas”, alçando gerentes de relacionamento a gerentes gerais Imaginem a seguinte situação: Agenor, responsável por administrar a tradicional Tratoria e Risttorante, decide submeter a empresa a uma reformulação, reduz o número de funcionários em algumas unidades, que passam a se chamar Lancherias. As Lancherias não possuem cozinheiros, por isso, os funcionários responsáveis pelo preparo da comida serão chapistas, com salários reduzidos. Seis meses depois, Agenor resolve re-reestruturar a empresa e torna as Lancherias em Cantinas, elevando os chapeiros a cozinheiros, mas mantém o mesmo salário do cargo anterior. Detalhe: durante todo esse processo o menu sempre foi o mesmo. Essa história, em tom cômico, foi descrita por um funcionário do BB sobre a nova reestruturação anunciada pelo banco, nesta semana. A administração da empresa informou que irá transformar os postos de autoatendimento (PAAs) em “Lojas”, que voltarão a ter o status de agência. Voltando um pouco no tempo, em janeiro deste ano, o BB anunciou um plano de reestruturação que vem resultando no fechamento de unidades e enxugamento do número de funcionárias e funcionários e sobrecarregando os que ficam. Nesse processo, algumas agências foram transformadas em PAAs, com gerentes de relacionamento subordinados a gerentes-gerais de agências maiores. Os funcionários pagam a conta Agora, nesta semana, o banco anunciou que os PAAs serão elevados ao status de “Lojas”, os gerentes de relacionamento serão “promovidos” a gerentes gerais, com mais responsabilidades e riscos inerentes ao cargo, entretanto, sem aumento salarial efetivo. “Com toda essa manobra, que vem ocorrendo desde janeiro, o banco conseguiu fazer uma ampla redução salarial, aumentando a responsabilidade do funcionário, com a possibilidade de ele ser descomissionado por ato de gestão”, alertou o representante da Federação dos Bancários da CUT do Estado de São Paulo (Fetec-CUT/SP) na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB), Getúlio Maciel. “O gerente de relacionamento que hoje fica nesses postos [de autoatendimento], vai ser promovido, entre aspas, para ter muito mais responsabilidade, assinar pelo banco, ter procuração pelo banco e não ter ponto eletrônico e ganhar 170 reais a mais. Sendo que, em alguns casos, os gerentes vão ganhar menos. Com a criação do Performa, de outra reestruturação que o banco rebaixou os salários, todas as comissões tiveram o valor reduzido, mas, em muitos casos, os gerentes mantiveram o mesmo valor através de uma complementação da verba. Agora, no momento em que eles forem, entre aspas, promovidos, vão perder a complementação dessa verba”, explicou a representante da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de Minas Gerais (Fetrafi/MG) na CEBB, Luciana Bagno. Em resumo, em alguns casos, gerentes de relacionamento que forem promovidos para gerente geral acabarão com os salários mais baixos. “Vale destacar ainda que, durante todo esse processo de reestruturação, os gerentes de relacionamento das PAAs sempre tiveram as mesmas responsabilidades, mas só poderiam ser descomissionados se tivessem três avaliações negativas, uma a cada semestre, por desempenho. Agora, eles poderão ser descomissionados por ato de gestão”, observou Getúlio Maciel. “A cada nova reestruturação os funcionários do BB se sentem mais desvalorizados. Sempre com aumento da carga de trabalho e das responsabilidades e redução do salário. As reestruturações vão se sobrepondo, somando anomalias e, inevitavelmente, aumentando o passivo trabalhista do banco”, ponderou Luciana Bagno. Banco de mercado “No lançamento do balanço do último semestre, o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores, José Ricardo Fagonde Forni, disse que uma das finalidades futuras da reestruturação seria a redução de despesas, principalmente no que tange às despesas administrativas e de pessoal. Então, essas reestruturações visam diminuir salários para apresentar um balanço melhor à custa dos funcionários, numa ótica que privilegia os acionistas em detrimento da qualidade de atendimento e responsabilidade social”, destacou o coordenador da CEBB, João Fukunaga. A CEBB procurou o banco para mais esclarecimentos sobre a nova reestruturação. “Estamos preocupados com o impacto dessas alterações, em tão pouco tempo e da forma como estão acontecendo, na vida dos funcionários. Se o banco quer fazer mudanças que correspondam às necessidades do mercado, precisa considerar que tanto o mercado como a empresa são formados por pessoas reais que não podem ser simplesmente movimentadas, como se fossem peças de um tabuleiro”, concluiu Fukunaga. Fonte: Contraf-CUT