Caros bancários e bancárias,
Não só as atribulações, os riscos e medos da vida moderna estão a nos adoecer mentalmente. As relações e, principalmente, a falta de condições adequadas de trabalho nos bancos, focados apenas e cada vez mais, em metas de vendas de produtos e serviços, abusivas e que retiram todo o sentido do nosso trabalho, tem causado verdadeira “epidemia” de doenças psíquicas entre nós.
Em pesquisa recente realizada em conjunto com a Universidade Federal Fluminense – UFF – Departamento de Psicologia – Volta Redonda, começamos a dimensionar o problema e buscar soluções e cuidados.
Mais da metade da categoria está adoecida. Ansiedade, depressão, angústia, Síndrome de Burnout…causando dor, sofrimento, afastamento do trabalho, mais ansiedade, mais insegurança, chegando a casos de suicídios, infelizmente…um círculo que se retro alimenta.
Por outro lado, os bancos, empresas de modo geral, ao invés de reverem seus processos produtivos para evitar os danos, só os intensificam, se utilizando de assédio moral e métodos de gestão desumanizados.
Não há acolhimento ou tentativa de recuperação. Só discriminação, preconceitos, punições, descomissionamentos e demissões.
Ao erário público cabe arcar com os custos do pagamento dos Benefícios Previdenciários, cujo INSS se torna outro calvário para os adoecidos terem reconhecidos seus direitos e possam fazer um tratamento minimamente digno com o afastamento do trabalho.
Mas faltam muitas políticas públicas para enfrentar esse novo grande problema de saúde pública.
Voltando aos ambientes de trabalho, podemos e devemos entre nós trabalhadores, resgatar a empatia, solidariedade e companheirismo.
Precisamos discutir limites para essa competição desenfreada e destrutiva que os bancos estabeleceram entre nós. Afinal, não somos nós a parte mais importante desse negócio que é feito de “gente”???
Isso é parte importante do nosso adoecimento.
Somos os campeoníssimos em afastamentos por doenças mentais no Brasil. Se representamos 1% dos trabalhadores formais, respondemos por cerca de 25% dos benefícios acidentários concedidos pelo INSS.
Isso se deve à ação diligente dos Sindicatos dos Bancários em todo o país, que emitem as CAT – Comunicação de Acidente do Trabalho.
Mas os dramas são muito maiores. Estamos falando de seres humanos adoecidos pela forma de exploração mais capitalista que existe: financeirização econômica. Que no Brasil, não cumpre em nada com seu papel social, que seria fomentar o crédito e contribuir com o desenvolvimento econômico e social.
Queremos, particularmente nesse dia 10/10, reafirmar aos bancários e bancárias, já adoecidos ou não, afastados do trabalho ou não, que estamos firmemente comprometidos com esse “novo” desafio: enfrentar de todas as formas o assédio moral institucional e essas formas perversas e intencionais de gestão.
Estamos buscando nos qualificar para poder intervir e produzir uma nova organização do trabalho que se não servir para promover saúde, pelo menos não seja causa de sofrimento e adoecimento psíquico.
Isso não pode ser utópico. É real.
Temos de parar essa máquina de adoecimentos, que todos os dias joga centenas de bancários para fora do sistema e da vida regular e saudável da sociedade, para fora.
Nós, trabalhadores bancários, empresas, profissionais de saúde, autoridades e serviços públicos, governos, sociedade e familiares, enfim, todos precisamos mudar nossa postura diante desse quadro.
Precisamos falar cada vez mais sobre esse tipo de sofrimento silencioso e “particularizado”.
Estamos disponíveis para ouvir, orientar e lutar.
Se hoje temos direitos nessa área, é porque muitos e muitas lutaram antes e por nós. Por isso a importância desse dia onde reconhecemos a importância da organização social e suas lutas.
Um VIVA a todos e todas lutadoras e nossa solidariedade às vítimas dos adoecimentos.
Contem conosco!
Miguel Pereira
Diretor de Promoção Social
Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense